Quem será o próximo Prefeito de São Paulo?
- Álan Braga
- 13 de set. de 2024
- 7 min de leitura
Atualizado: 14 de set. de 2024
Na quinta-feira (12 de setembro), foi divulgada a mais recente pesquisa Datafolha sobre o cenário eleitoral da prefeitura de São Paulo. A pesquisa mostrou uma tendência de polarização entre o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), com 27% das intenções de voto e Guilherme Boulos (PSOL) em 2º lugar, com 25% das intenções de voto. Um pouco atrás está o ex-coach, Pablo Marçal (PRTB), com 19% das intenções de voto.
Em relação ao levantamento anterior do mesmo instituto, Nunes cresceu 5%, acima da margem de erro. Boulos oscilou 2% para cima, dentro da margem de erro do levantamento e Marçal recuou 3%, também na margem de erro da pesquisa. Marçal, em diversos levantamentos, teve crescimento rápido e constante nos últimos meses, com uma grande força nas redes sociais, surgindo como uma “novidade na Política”, com um discurso apelativo, voltado para os costumes conservadores e para uma disrupção no “sistema”.

Entretanto, por que após um crescimento acelerado, “o fenômeno Marçal”, segundo a última pesquisa Datafolha, foi refreado?
Acredito que existem 3 motivos que impedem o coach de disputar um 2º turno em São Paulo e vou elencá-los:
Nunes tem a gestão bem avaliada pelos eleitores paulistas. Seus índices de avaliação, segundo a última pesquisa Quaest: 35% consideram a gestão positiva, enquanto 37% consideram a gestão regular e apenas 20% consideram a gestão como negativa.
Marçal não representa uma oposição a Ricardo Nunes: Marçal está no mesmo campo político de Nunes, buscando os votos da centro-direita até a extrema-direita. Já Boulos é o verdadeiro representante da oposição ao governo de São Paulo, com apoio do presidente Lula e do PT, bem como de movimentos sociais e estudantis.
Marçal está isolado na disputa: seu partido é inexpressivo, não tem apoios de movimentos políticos relevantes, não tem tempo de televisão e ainda teve seu principal meio de comunicação, suas redes sociais, bloqueado.
Mas o que explicaria a subida de Nunes, acima da margem de erro, e a oscilação negativa de Marçal repentinamente?
Com o começo da campanha em rádio e TV, Nunes ocupa 65% do tempo, o atual prefeito pode divulgar mais seus feitos como prefeito. Vale pontuar que Nunes é prefeito, mas não foi eleito (era vice-prefeito na chapa de Bruno Covas, que faleceu em 2021), ou seja, não é 100% conhecido pela população paulistana. Outro fator, que converge com o começo do tempo de TV e rádio, é o início de uma campanha ostensiva do atual governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, favorável a Nunes.
A gestão de Tarcísio, na cidade de São Paulo, é avaliada como “ótima/bom” por 36% dos paulistanos, enquanto é classificada como “regular” por 30% dos paulistanos. Logo, a partir desses números, verifica-se que Tarcísio é um bom “cabo eleitoral” e sua entrada na campanha pode fazer a diferença em favor de Nunes.
Outro fator é o apoio de Bolsonaro. São Paulo, por ser uma cidade cosmopolita, sofre influência do ambiente político nacional. Marçal tentou angariar o apoio do ex-presidente, entretanto, Jair Bolsonaro indicou o candidato a vice-prefeito de Nunes, Mello Araujo (PL), e parece que começará a entrar de fato na campanha. Até o atual momento, Bolsonaro era tímido na campanha, entretanto, nos atos do dia 07 de setembro, Nunes subiu no palanque de Jair e hoje, dia 13/09, Bolsonaro gravou um vídeo de apoio ao atual prefeito.
O que pode ter freado o crescimento de Marçal foram os ataques pesados à sua candidatura. Após o crescimento repentino nas pesquisas, Marçal virou o foco dos ataques de todos os postulantes. Vídeos pesados sobre supostas ligações com facções criminosas foram produzidos, falas não republicanas foram resgatadas e entre outros materiais produzidos pelas campanhas adversárias.
Além disso, após pedido de Tábata Amaral (PSB), a justiça eleitoral removeu do ar as redes sociais do ex-coach, em virtude de supostas violações ao código eleitoral. Apenas em seu Instagram, Marçal contava com 13 milhões de seguidores e certamente, essa decisão, pode ter sido uma dura derrota para sua campanha.
Dado esse contexto, minha análise do dia 13 de setembro é que as eleições na cidade de São Paulo terão um 2º turno, provavelmente entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Obviamente, ainda faltam 23 dias para a eleição, com debates e acontecimentos que podem alterar o curso do pleito. A opinião pública é fluida e a análise não é uma “opinião” rígida, então, tudo pode mudar.
Ademais, como pedido pelo Instagram, trarei uma breve análise sobre os planos de governo dos candidatos a prefeito de São Paulo. Selecionei 2 áreas, segurança pública e meio ambiente:
Ricardo Nunes (MDB): O plano de governo do atual prefeito é dividido em 18 eixos.
No campo da segurança pública, as propostas de Nunes estão em 2 páginas. O atual prefeito propõe um ataque ao problema da segurança se dirigindo a raiz do problema, defende a ampliação do acesso às atividades educacionais, culturais e esportivas como resposta para retirar a juventude da criminalidade. Além disso, promete aumentar o efetivo da guarda municipal, bem como “modernizar” equipamentos e treinamentos.
Nunes defende a expansão do programa de videomonitoramento “Smart Sampa”, com vistas a integrar os sistemas de informação e aprimorar a segurança.
O plano de governo na área da segurança parece mais um plano de intenções, não há nenhuma proposta prática, nenhum plano efetivo. A proposta de governo parece falar mais sobre o que foi feito pela gestão, do que sobre o que se espera do futuro da cidade.
No âmbito do meio ambiente, as propostas são “criação de novos parques, revitalização dos existentes”, bem como a “redução de emissões do setor de transportes”, com veículos “zero emissões”. Além disso, defende o incentivo à substituição da frota de transporte escolar por alternativas não fósseis.
As propostas parecem ser mais tangíveis, práticas, entretanto, não apontam a forma de operacionalizar. De que forma ocorrerá a substituição dos veículos? Qual o orçamento necessário? Esses gaps podem indicar que não existe nenhum tipo de plano concreto, apenas intenções.
Guilherme Boulos (PSOL): O programa de Boulos tem mais de 20 eixos. No âmbito da Segurança Pública, Boulos propõe um programa chamado “São Paulo mais segura”, com a implementação de “policiamento de proximidade”, com a presença física da guarda municipal em ruas com maior incidência criminal, além disso, atuando em pontos de ônibus e principais vias.
Boulos também defende uma maior “valorização da guarda municipal”, também propõe que se equipe câmeras corporais nos integrantes da guarda. Além disso, defende o “Programa Escola Segura”, com uma viatura da guarda em cada escola municipal na entrada e saída de alunos.
As propostas do Boulos, no âmbito da segurança, entre os candidatos, parecem ser as mais tangíveis. Entretanto, também não indicam a forma de operacionalização. Como colocar uma viatura em cada escola municipal, só em São Paulo existem mais de 1400 escolas municipais (CEUs, centros de educação infantil, escolas municipais de ensino fundamental e bilíngues), tendo um efetivo de 7 mil homens para toda a guarda?
No âmbito do meio ambiente, Boulos defende um plano de “drenagem e combate à crise climática”. Para isso, pretende atualizar o plano diretor de drenagem (PDD), associando obras que utilizem estruturas de retenção convencionais com infraestrutura verde. Defende a elaboração de um novo Plano Municipal de Redução de Riscos, bem como a criação de corredores verdes de arborização.
O que chama mais atenção é o plano de “Transformar São Paulo na Capital da Transição Energética”: com a renovação dos ônibus e dos veículos utilizados pela prefeitura, concedendo incentivos aos combustíveis limpos, com a meta de tornar 50% da frota de ônibus elétrica ou híbrida.
Novamente, existem propostas mais robustas que os outros dois candidatos, entretanto, as propostas não trazem a fase de operacionalização. Por exemplo, quanto custaria para renovar 50% da frota paulista de ônibus? Como combater o forte lobby das empresas de transporte? Falta algo mais no plano.
Pablo Marçal (PRTB): O plano de governo do ex-coach é dividido em 9 eixos: Gestão Pública; Desenvolvimento Social e Econômico; Segurança; Educação e Esporte; Saúde e Atividades Físicas; Habitação, Mobilidade e Vida Urbana; Virtualização; Turismo e Internacionalização; e Proteção ao Meio Ambiente, Bioeconomia e Economia Circular.
Como algo central, o candidato defende um investimento em “governo digital”, com a prefeitura chegando à “mão” do cidadão. Além disso, propõe que as subprefeituras aumentem de 32 para 96, com a justificativa de “estar mais perto da população”, tendo o horário de atendimento ampliado.
No campo da segurança, Marçal defende investimentos em inteligência, tecnologia e compartilhamento de informações - com uma central de operações de dados. Mas a principal proposta desse campo é a defesa da “triplicação” do efetivo da Guarda Municipal, de 7 mil para 21 mil guardas, com “os melhores armamentos e equipamentos de ponta”.
Todas as propostas são genéricas e não indicam como serão operacionalizadas. Só a folha salarial dos atuais 7 mil guardas é de R$ 700 milhões, em uma conta simples, triplicar o efetivo significa uma folha de R$ 2,1 bilhões. A proposta é escrita em 3 linhas e não indica fontes orçamentárias nem como efetivamente fazer.
No campo do meio ambiente, são 4 propostas que estão dispostas em 2 slides. Propostas vagas, genéricas e sem nenhuma profundidade. A principal proposta é a despoluição do Tietê, entretanto, assim como em outras áreas do documento não há nenhum detalhamento de como será feita. Lembrando que para as Olimpíadas de Paris, a cidade gastou 1,4 bilhões de euros, quase 10 bilhões de reais, apesar desse montante empenhado, os relatos de atletas é de que o rio não estava despoluído.
Marçal não indica em nenhum momento que existe um plano para limpar o Tietê, ou algum estudo encomendado, parceria com a academia ou algo do tipo - muito menos o custo do empreendimento. Não parece ser uma proposta séria.
De forma geral, todos os planos de governo carecem de indicações práticas de como aplicar as propostas. O pior, sem dúvidas, é o do candidato Marçal, que nas áreas da segurança e meio ambiente, não traz nenhum tipo de plano tangível, e o único que lá está (ampliação da guarda municipal) parece totalmente fora da realidade orçamentária.
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