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Governo Trump: O que esperar da agenda climática?

  • Foto do escritor: Álan Braga
    Álan Braga
  • 19 de nov. de 2024
  • 4 min de leitura

Com a eleição de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos, temores voltam a pairar nos defensores da ordem liberal constituída e da transição energética. O mundo enfrenta uma crise climática sem precedentes, uma ameaça existencial à vida humana. 


Segundo relatório do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o mundo até 2023 aumentou sua temperatura média em 1,15 ºC acima dos níveis pré-industriais. Projeções recentes estimam que o mundo poderá chegar ao aquecimento de 2 ºC em 2050.  Isso implicaria em um aumento do nível do mar em mais de meio metro, bem como no aumento da incidência de eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, inundações (como as do Rio Grande do Sul), furacões mais poderosos entre outros.    


Apesar do grave cenário e da necessidade de transicionar de um modo de vida e uma economia baseada em combustíveis fósseis, ainda existem negacionistas climáticos e o presidente eleito americano, Donald Trump, é um deles. 


Trump, em seu 1º mandato, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris — acordo em que países se comprometeram a limitar a temperatura terrestre em 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais. O presidente eleito deixou claro que pretende reverter novamente os compromissos climáticos. Além disso, Trump, de forma rotineira, minimiza e ironiza a mudança do clima. Segundo o presidente eleito, “o aumento dos níveis do mar seria benéfico, pois teríamos mais propriedades à beira-mar” (tradução livre).   

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O que torna a eleição de Trump tão perigosa para o enfrentamento às mudanças climáticas? 


Os Estados Unidos são o 2º país que mais emite Gases do Efeito Estufa (GEE), agente principal causador do aquecimento global e das mudanças climáticas. Além disso, o país é disparadamente o maior emissor do mundo per capita. Sozinhos, em 2023, os Estados Unidos emitiram 1,5 vezes mais que todos os países da União Europeia. 80,58% (2023) do total de energia primária utilizada nos Estados Unidos vem de fontes fósseis, esse dado é um dos grandes responsáveis por esse perfil de emissões de CO2. 


A emissão massiva e a velocidade molecular de carbono emitido é tão grande, que pouco importa se a emissão advém do Brasil, China ou Austrália, o efeito é global. Portanto, se um país com o perfil de emissões e capacidade de investimento dos Estados Unidos largar as políticas de transição e não se comprometer com a agenda climática, todo o esforço global em limitar a temperatura terrestre poderá ser prejudicado. 


Trump sagrou-se o novo presidente dos Estados Unidos há menos de 2 semanas e já começou a indicar sua equipe de governantes. Este texto dará destaque para a indicação de Chris Wright, que será o Secretário de Energia do Governo dos Estados Unidos


Wright é um executivo da indústria de Óleo e Gás, sem experiência governamental e um entusiasta da extração de petróleo. Segundo o futuro Secretário de Energia, os combustíveis fósseis podem ajudar no “combate à pobreza”— a experiência mundial mostra não ser necessariamente verdade, existem grandes países produtores de petróleo extremamente pobres, como é o caso da Venezuela. Wright é fundador da “Liberty Energy”, empresa que presta serviço para o setor de Óleo e Gás e atua principalmente no fraturamento hidráulico, ou “fracking”, técnica comumente utilizada nos Estados Unidos para a remoção de Petróleo e Gás de rochas densas subterrâneas — processo que envolve a injeção de água, produtos químicos sob alta pressão para fraturar as rochas e permitir a extração dos combustíveis fósseis


O fraturamento hidráulico, além do aumento do uso intensivo de fósseis, também é permeado por diversos impactos sobre o meio ambiente, com elevada pegada hídrica, riscos de contaminação de aquíferos, bacias hidrográficas e risco de escape de metano — um dos Gases de Efeito Estufa (GEE). 


Além de ser um representante do setor econômico dos combustíveis fósseis, Wright também possui posicionamentos negacionistas em relação à mudança do clima. Destaca-se uma postagem, no seu perfil pessoal, em uma rede social corporativa, onde Wright afirmou “não existe crise climática e não estamos no meio de uma transição energética” (tradução livre).  A nomeação de Wright certamente é uma vitória para a indústria do petróleo e uma derrota para o resto do mundo, afinal, quanto mais demorar para a mitigação e para o “phase-out” dos combustíveis fósseis, mais dramática será a situação do sistema terrestre para a vida.


Wright comandando a Secretaria de Energia dos Estados Unidos, sob a presidência de Trump, não representa uma surpresa diante do seu discurso alinhado com o presidente eleito. Todavia, neste atual mandato, existe um fator que pode moderar o negacionismo climático do presidente eleito e de seu futuro governo: Elon Musk. Não que o bilionário seja um grande ativista climático, ou de fato se preocupe com a situação global, contudo, seus negócios são impactados diretamente pela transição energética. 


Musk é o dono da principal empresa americana de carros elétricos, a Tesla, e o refreamento da política de mitigação sobre o setor de transportes, com a volta do incentivo à produção de carros à combustão, iria colidir frontalmente contra os interesses do bilionário e certamente seria um golpe doloroso em sua principal empresa. Por que Musk pode ajudar a moderar a política negacionista trumpista? 


Simples, Elon Musk foi o maior doador da campanha de Donald Trump — US$ 75 milhões —, além disso, teve importante participação na campanha devido à sua popularidade entre os eleitores mais jovens. O bilionário conta com tanto prestígio com o presidente eleito, que ganhou até um cargo no governo americano. Elon Musk será o responsável pelo “Departamento de Eficiência Governamental” no próximo mandato e é visto frequentemente com o novo presidente dos Estados Unidos. 


O tempo dirá se os interesses econômicos de Elon Musk, como os incentivos à eletrificação das frotas e aos carros elétricos, se colidirão com a ideologia negacionista de Trump e de seu Secretário de Energia. Apesar dos interesses econômicos de Musk, os prognósticos para a política climática, nos próximos 4 anos, do 2º maior emissor de carbono do globo são terríveis. 


A provável saída do Acordo de Paris, o aumento da extração e consumo de fósseis, bem como uma política que deixe de lado os investimentos em energias verdes e adaptação climática, são medidas que podem custar caro aos Estados Unidos e ao mundo no médio e longo prazo. 









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