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O mundo entrará em uma nova corrida nuclear?

  • Foto do escritor: Álan Braga
    Álan Braga
  • 16 de mar.
  • 3 min de leitura

Com a chegada de Trump ao poder, o continente europeu teve suas fragilidades expostas. A aliança longa e duradoura com os EUA parece estar definhando. Após Trump abandonar a Ucrânia e criticar repetidamente a OTAN, a Europa vive uma crise de insegurança. Além disso, Trump promete frequentemente tarifas aos produtos europeus — o continente possui um superávit de aproximadamente 200 bilhões de euros no comércio bilateral com os EUA.


Com problemas econômicos, uma invasão russa no continente europeu e o principal aliado, econômico e militar, se virando contra o continente, os líderes europeus têm uma situação mais que desafiadora para lidar. Nas últimas semanas, a UE anunciou um plano de 800 bilhões de euros para defesa. Além disso, a Alemanha — que não possui exército relevante desde a 2ª guerra — anunciou uma nova política de rearmamento. Dado esse contexto, comentarei um dos principais acontecimentos recentes dentro desse complexo imbróglio.


Donald Tusk, primeiro-ministro polonês, afirmou, na última semana, que a Polônia seria “mais segura se tivesse um arsenal nuclear próprio”. Essa fala é um indicativo de uma possível nova corrida nuclear. Países que mais temem o imperialismo russo — Polônia, República Tcheca, Bálticos, Escandinavos e entre outros — podem ver como única saída o início de programas nucleares, o que pode escalar ainda mais as tensões entre o continente europeu e a Rússia.


Na última semana, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que a França poderia iniciar um debate “sobre usar sua dissuasão nuclear para proteger aliados europeus”.Apesar de ser difícil que isso aconteça, afinal, significaria um país se comprometer a se engajar em uma guerra de destruição total, sem que seja seu território sob ataque, com vistas a proteger um aliado, a fala é mais um sintoma da crise de segurança que o continente atravessa. Ademais, os arsenais franceses e ingleses não são tão vastos, a ponto de garantir a sua própria dissuasão e a do continente — tal qual o arsenal americano.


Logo, é possível que novos países entrem na corrida para integrar a seleta lista de 9 detentores de armas nucleares. Obviamente, isso seria um desastre para o mundo e para a humanidade. Além de mais líderes, atualmente são 9, terem o poder de iniciar uma guerra de dimensões catastróficas, uma nova corrida nuclear significaria uma drenagem de recursos de áreas fundamentais como saúde, educação e clima.


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Segundo o ICAN (International Campaign to Abolish Nuclear Weapons), em 2023, os 9 países detentores de armas nucleares gastaram 90 bilhões de dólares (aproximadamente 522 bilhões de reais) na manutenção e modernização de seus arsenais. Para se ter uma dimensão de escala, esse valor é igual ao orçamento de 3 programas “Bolsa Família” (que atende mais de 50 milhões de pessoas). Com mais países entrando nesse jogo, o resultado é uma elevação ainda maior nos gastos em manutenção, modernização, produção de novas armas e capacidades de lançamento. 


Para falar sobre energia renovável, uma das maiores usinas solares brasileiras (Pirapora) teve um custo de 2,5 bilhões de reais, com capacidade instalada de 330 MW. Fazendo uma conta simples e não metodológica, os 522 bilhões, gastos em um ano, poderiam construir 208 usinas semelhantes à Usina de Pirapora, com capacidade instalada total de 69 GW — equivalente a 5 usinas Itaipu em capacidade instalada, a hidrelétrica que mais gera energia no mundo.


Quanto mais se gasta em armas e guerras, menos atenção se tem a temas fundamentais no mundo. O cenário atual, de incerteza, insegurança e imprevisibilidade, leva os líderes a tomarem decisões racionais no curto prazo, entretanto, irracionais no médio-longo prazo, principalmente ao deixarem de lado grandes desafios. O grande problema é: o médio prazo e o longo prazo chegam, e a mudança do clima, para dar um exemplo, é um desafio que já chegou e necessita de vultosos investimentos para que não seja tarde demais. Por fim, mais guerras, mais armas e mais tensão também significam mais incertezas geopolítica, fazendo com que o continente europeu seja cada vez menos atrativo para receber investimentos internos e externos, o que abre uma janela de oportunidade para regiões sem risco geopolítico, como a América do Sul.


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